Javier Gomá (Bilbao, 1965) está em um ponto de inflexão na sua obra filosófica. No próximo dia 28 de junho, estreou no Teatro Maria Guerreiro, com direção cênica de Ernesto Cavaleiro, o monólogo dramático com o que Javier Gomá se envolveu pessoal e literariamente em luto pela morte de teu pai.
O texto fecha “A imagem de tua vida”. Gomá, expectante, conta que “o li duas vezes, em público e vem sendo uma experiência intensa. Agora o fará um extenso ator: Fernando Caio”. A cena, diz o autor, põe à prova a prática de persuasão das verdades filosóficas.
Mas o texto excedeu a sua intenção original e quem domina lhe convencido de que o teu valor dramático é puro, digno de simbolizar. Eu amo de separar entre a morte e a mortalidade. A morte é algo vulgar que acontece com os mosquitos, plantas e todo ser orgânico, sendo que a consciência da morte qualquer coisa exclusivamente humano. Daí, todo o valor, como eu alegou no “Primores do mortal”. Agora traz essa consciência ao terreno da emoção, e isso lhe oferece uma grandeza cuajadamente humana.
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eu acho que é desta forma. Alguns leitores me insistem que a “Tetralogia da Exemplaridade” mantém-se em um terreno abstrato. É dizer, que eu falo a respeito da exemplaridade quase sem ceder exemplos. Mas em “A imagem da tua existência” o conceito de exemplaridade se torna vivencial, e, deste jeito, muito mais próximo do emocional.
Pesquisar transcendência obriga o raciocínio a situar-se um pouco mais além. Digo no livro que a aletheia (verdade) é etimologicamente a-lethos (não-esquecimento). O primordial de que o ser humano descobre-se a toda a hora de maneira póstuma. Quando um morre, decorre o acidental e resta a existência fixada em seis ou sete características que serão recordados. O palpável, o que é digno de não esquecer.
Esse é o limite. Em “Inconsolável” a voz do pai aparece do além. Assim é, quando se ouve a voz do pai que diz ao filho que tudo é mais acessível. Isso inicia um desfecho de maior reconciliação.
E o filho pensa sobre a imagem da vida do pai, que ilumina a pergunta a respeito da imagem da própria existência. E diz: me dou conta de que é uma caixa, e de que estou a tempo de juntar muitas pinceladas pra completá-lo, a fim de que a minha existência seja um convite a uma existência digna e atraente. É um imperativo radical: o Quase chamado a uma santidade cívica.